27 janeiro, 2006

só pensar

Todo mundo tem de contar uma história, criar dentro dela a sua imaginação que nada mais é do dizer o que você precisa dizer. A minha história é demasiadamente conturbada, as histórias que gosto de contar são praticamente todas autobiográficas...sempre que penso em escrever algo fictício mesmo não querendo que isso aconteça, me inspiro em mim. Fugir do que você sente para criar um texto é muito difícil, tenho medo de sempre ser presa ao meu ego. Gosto de contar histórias, quero por vezes diferenciá-la, tento outras formas de texto, de linguagem, de estrutura, por vezes, é muito difícil manusear as palavras de acordo com a minha intenção e então me perturba a incoerência do parágrafo. Há tanto me negava a aceitar que o meu interesse pelas palavras podia ser substituído pelos atos, por um esforço físico apenas, hoje nego toda a minha antiga displicência em criar. Não preciso ser um Mario de Andrade em construção literária, no momento, prezo pela sensação de poder divagar idéias e estimular minha mente. Por mais, a cadência de meus textos não é como a das músicas, não tem o mesmo suingue que as letras inteligentes de Marcelo Camelo, nem a melodia de Cartola mas não importa mais, se é bonito ou não, quero somente me testar e me privilegiar da minha imaginação.

24 janeiro, 2006

de dentro da sala

A música que foi eleita a mais buscada na rádio Uol é a Bola de sabão do grupo Babado Novo. Houve tempos em que quem dominava as paradas de sucesso era Chico Buarque, Caetano Veloso (particularmente, não gosto, mas isso é outra história) e outros membros da nossa história musical das décadas passadas.

Uma canção que tem como refrão “Nas nuvens e te vestir com a luz do sol te beijar infinito admirar as tuas asas” não devia merecer nem um único ouvinte. Além da falta de qualidade nos arranjos, a letra é piegas e infantil.

Eu trabalho com mais quatro pessoas que admiram grupos como Babado Novo, Calypso, Chiclete com Banana e por aí vai a decadência sonora. Nesse momento, o hit da agência é “Se ela dança, eu danço”, estou embasbacada com tanta criatividade. E me chamam de garota hardcore, se ao menos soubessem do que estão falando, eu aceitaria a alcunha.

Quando leio matérias que indicam a banalidade dos homens e que mostram a que ponto chegou o mercado musical e a indústria de massa, me sinto claramente ofendida, gostaria que as pessoas conseguissem querer mais, deixar de ser um denominador comum e protelar junto a mim contra a indústria fonográfica.

Enquanto o mundo gira em torno de hits de verão, eu escrevo mais um pouco sobre a mediocridade. Desculpem-me os leigos mas boa música é fundamental.

20 janeiro, 2006

espaço cedido

Lentamente pula a pedra, escorre no limo, firma o pé e continua. Lentamente. Pára e respira fundo, deixa o coração pulsar forte por cinco, nove vezes. Continua, à espera de que as nuvens tenham ido embora quando este chegar ao topo.

por Marcos Diego Nogueira.

18 janeiro, 2006

...

Lentamente toma o seu café com leite, um senhor senta ao seu lado, coça o couro cabeludo que já não detem quase nenhum fio de cabelo, repara que a idade traz manias como a de coçar a cabeça, tentar espiar o que o velho homem lê - um livro de Mario de Andrade - já lera essa história, um menino que se apaixona por sua tutora e vice-versa, um final triste.

17 janeiro, 2006

suavidade

Devagar levanta a sobrancelha, um gesto que só o faz quando algo não está bem. Puxa as mãos para cima, os movimentos estão lentos, do coração já não escuta nem o palpitar. Gosta de ir à padaria, os azulejos têm desenhos bonitos – flores laranja temperadas com um tom marrom – o cheiro dos pães no forno traz um sorriso, senta-se nos bancos antigos e pede um pingado.

16 janeiro, 2006

que o vento traga sorrisos...

O final de semana foi complicado e perverso. Enquanto eu expurgava minha dor, repensava o que estava errado em minha vida. Por que tão triste estava? Comecei a ter um levante de ciúmes, possessividade e falta de compaixão comigo mesma. Brigas sem sentido, dores, mágoas, medo de entorpecer a mente e não conseguir me segurar, medo de ser perdida, de não levantar da cama, de não olhar mais pra frente. Eu tô tentando sim melhorar, eu sempre consegui ser feliz. Eu quero ser feliz.

Te amo.

11 janeiro, 2006

nice

só para constar que eu estou viva e feliz. um momento só. com vontade de muitas coisas novas.

09 janeiro, 2006

unhas vermelhas

Escorregou no lençol úmido, noites quentes lhe traziam na pele o cheiro do suor e marcavam na noite o seu corpo no lençol. Admirava-se por ainda conseguir ter forma, pois os dias eram cada vez mais distantes da sua natureza. Continuou a pensar que o seu brilho que nunca houvera deixado de existir, começava a falhar. Não sabia se agüentaria tanto mais acordar todos os dias para exercer a mesma função. Complicava o seu temor. Quantas noites haveria de lhe fazer esperar um novo dia? Será que havia desistido de seus anseios? Os olhos um pouco amarelados mostravam o amargor que sentia de si própria, mesmo assim, não perdia a vaidade. Gostava de pintar as unhas de vermelho, achava que lhe dava um toque de sensualidade, precisava que outros olhos a contemplassem, estava infeliz! Algumas vezes, saía de seu apartamento para se sentar na grade do coreto. Adorava aquele coreto de cores verde e marrom. Era seu momento de nostalgia, quando se aconchegava de pernas cruzadas no fino corrimão, recordava as brincadeiras solitárias dentro daquele grande concreto arredondado que só a ela importava. Sabia que era uma criança distante das outras, gostava de suas bromas individuais, o seu melhor amigo - um coreto - que a abrigava da chuva, do sol e a deixava ser o que ela quisesse. Sabia que nunca ia deixá-lo, ele era o seu âmago!