O coração hippie ainda permanece na carcaça urbana que me veste agora. Dos olhos de outros não se vêm mais as saias rodadas ou os colares de palha, dos olhos de outros o sintético, o all star e as unhas vermelhas já tomaram conta. Aos meus olhos de dentro, vejo ainda a água guiando meus sentidos, as batas surradas e as sandálias rasteiras. Aos ouvidos de outros, baniu-se em minha vida Bob Marley para entrar o rock n´roll, aos meus ouvidos, agrego ao jah man o velho rock n´roll. Ao cheiro de outros, sou fumaça de carro, de ônibus, sou tatu de metrô, aos meus cheiros, ainda é a leve brisa sativa junto à folha molhada e à água do Ribeirão. Ao sentido de outros, tenho a carcaça seca da cidade grande, ao meu sentido, tenho a pele nova, aveludada, do ar límpido do interior.Ninguém pode ater-se a uma carcaça pré-julgada, de dentro é que me enxergariam melhor
20 abril, 2006
05 abril, 2006
branca (o)
Vestida de branco ela dança com a vida, bonita de olhos circulares, mãos arredondadas e pele vermelha de calor, segura sua cigarrilha e faz inveja a quem não é bela ao fumar. A fumaça transparece sua vivacidade, sua energia. Não contém dentro de si a sua verdade, ela é de moléculas reais, suas células se formam em tons de vaidade. Seu tronco alongado tem simetria com suas pernas torneadas, nem sabe se é bonita, mas olhos brilhantes dizem mais do que rostos perfeitos. Os dentes todos aparecem quando sorri, não esconde miudezas, nem mentiras na sua boca. Os braços fazem formas diferentes a cada movimento, são leves parecem não pesar nunca. Não é gorda, nem magra, não é minha, nem sua, não é homem, nem mulher. O feminino do texto vem só para quebrar as regras. Consegue imaginar essa beleza?