Estrago
As mãos presas e os olhos vendados, quem jamais se sentiu assim? Muitos caminhos, escolhas, dois, quatro, cinco, quais são as chances de ser a opção correta? Quem vem depois da dúvida? O medo é claro, aquele do depois que ninguém sabe no fundo do que. Esbraveja o sentimento para longe. Próximo passo, auto-afirmação, eu posso, eu sei fazer, eu digo quando. Um passo rápido que se esconde de novo atrás do medo. Mais fácil é negar do que acreditar ou afirmar algo que não acredita? Confusa, senta, pensa, solta as mãos e apóia nos cabelos e de nada adianta. Pega o telefone, disca, chama aquele que pode te auxiliar, na verdade procuras uma solução imediata, ele não lhe pode dar, mostra ângulos, observa de fora, de dentro mesmo não pode enxergar, você nunca revela tudo. Desliga, pensa de novo, escuta Los Hermanos, se entrega às letras, se sente igual a cada pedaço de música, esquece um pouco e relembra um tanto “se é no não que se descobre de verdade”,“me diz se assim está em paz”. Merda. Quanta merda. Não quer mais música, abre a porta da rua, sair ou não? Sai, celular toca, não quer atender sua mãe para não ter de dar explicações que nem existem naquele momento. Coloca Los Hermanos novamente no discman, pensa em tudo, faz construções, desmonta, remói, contorce, se inverte, tem dó de si, dele, daquele. O problema está dentro de mim – pensa - não defino, não aceito, não acato como ao mesmo não brigo, não arrisco, não me mostro. Se sente sem fim.